domingo, 23 de novembro de 2008
Jaime Pacheco responde aos leitores de Record Internet
«As coisas estão a funcionar melhor do que pensava»
Depois de ter sido campeão no Boavista e ter ido para Espanha, tudo parecia indicar que iria fazer uma grande carreira internacional. O que lhe faltou para o conseguir?
Pedro Afonso, Ovar
A primeira razão foi ter entrado num clube que não era dos maiores de Espanha. Apesar de ter ganho a Copa do Rei nesse ano, lutava apenas para não descer. E depois sucedeu outra coisa que muitas pessoas desconhecem: um mês depois de chegar, a empresa que me contratou vendeu o clube ao senhor Cursach, que também tomou conta do Beira Mar. Aí, fez-me o mesmo que fez ao Carvalhal. Destituiu-me, independentemente dos resultados. Além disso, o Maiorca manteve a mesma defesa, que tinha sido a mais batida na época anterior, mas perdeu a espinha dorsal do meio-campo para a frente. Entre outros, perdemos o Pandiani, melhor marcador da equipa, para o Corunha. Por fim, nada tive a ver com os reforços que chegaram. Quis contratar o Maciel, o Martelinho, o Luís Loureiro e o Pepe, então no Marítimo. Não contrataram nenhum e foram buscar reservas ao Atlético de Madrid. Fiquei muito fragilizado e acabei por ser substituído pelo Aragonés, a quem deram 7 jogadores na reabertura do mercado e mesmo assim só se salvou da descida mesmo à justa.
Depois de tantos anos no Norte, como se sente a treinar um clube de Lisboa?
David Silva, Vila Franca de Xira
Muito bem. Vir para o Sul não é novidade para mim porque joguei 2 anos no V. Setúbal, 2 no Sporting e muitos outros na Selecção. Portanto, sou um treinador do País e não de uma região. Não sou regionalista, mas nacionalista! Tudo gira em função do nosso bem-estar, o que depende da forma como nos recebem. E garanto que fui muito bem recebido em Setúbal, em Alvalade e agora no Belenenses. Ao contrário do que dizem, no Sul sabem receber tão bem como no Norte. As coisas estão a funcionar melhor do que pensava porque consegui criar empatia com toda a gente num curto espaço de tempo. Sinto-me muito bem em Lisboa!
Sente que é uma lacuna na sua carreira ainda não ter treinado um grande ou vê-se “apenas” como um grande treinador dos “pequeninos”?
Carlos Sousa, Funchal
Na altura em que fui campeão, e mesmo antes de o ser, tive a oportunidade de treinar grandes. Só que acredito nas coisas, nas pessoas e nos valores. Eu tinha um compromisso com o Boavista e o clube entendeu que não devia sair. Eventualmente, podia ter evocado alguns pretextos para abraçar outros projectos com outras ambições. Não me preocupei com o mais importante para muitas pessoas, o dinheiro. É verdade que após essas possibilidades de ir para vários clubes grandes em Portugal nunca mais tive outra. Não sou de falar muito pois sou bastante discreto. Basta ver que fui campeão, fiz duas vezes 2.º, andei na Europa e poucas entrevistas dei. A minha forma de ser é assim… Orgulho-me do meu currículo pois trabalhei quase sempre em equipas em situação difícil, com muitos sucessos, e quando me deram um orçamento igual aos outros fui campeão!
Espera regressar um dia ao Boavista?
Carlos Sousa, Funchal
Ainda há 15 dias pensei que pudesse regressar ao Bessa caso o sorteio ditasse um Boavista-Belenenses para a Taça. Só nesses termos. Não quero fazer futurismo em relação ao Boavista. Tenho um passado ao qual me orgulho de pertencer, nunca mais o esquecerei, mas vivo o presente, que é outro.
Acha que o futebol português terá um bom futuro?
André, Seixal
Penso que o futebol português caminhará lado a lado com o País. Se o País melhorar financeiramente, poderemos ter um futebol melhor. A nossa qualidade depende do dinheiro e já muito fazem os clubes portugueses, em função dos orçamentos que têm, porque lutam com outros bem mais poderosos, aos quais ganham muitas vezes. Basta ver os jogadores portugueses que estão em mercados emergentes como o Chipre e a Roménia, sem falar dos outros que estão nos países mais fortes como Espanha, Inglaterra ou Itália. Se conseguíssemos manter cá os melhores jogadores e voltar a trazer alguns craques do Brasil ou da Suécia, a qualidade melhoraria bastante.
Qual é a sensação e o sentimento de ter sido campeão sem ser ao serviço de um dos grandes?
Carlos Manuel, Pêro Pinheiro
A melhor do Mundo! Quando falo nisso, englobo sempre quem trabalhou comigo. Se há treinadores e pessoas que se sentem felizes, com toda a naturalidade, quando ficam em 4.º, 5.º ou 6.º, vão às competições europeias ou chegam à final da Taça de Portugal, imagine qual o meu sentimento por ter sido campeão. Viverá comigo para sempre porque é praticamente inédito, à excepção do Belenenses em 1945/46. Já agora, desafio qualquer treinador a ser campeão ou até a ficar em 2.º lugar numa equipa dessas.
Se tivesse a possibilidade de treinar Sporting, Benfica ou FC Porto, tendo o mesmo ordenado, qual dos três escolheria?
João Santos, Sintra
Olhe, vou revelar aqui algumas inconfidências. Em miúdo era do Benfica. Joguei num clube onde ganhei tudo, que foi o FC Porto. E o Sporting foi o clube que até à data, sem contar com o Belenenses e sem fazer qualquer crítica aos outros, onde fui melhor tratado. Portanto, deixo essa questão ao critério das pessoas.
Agora que já se passaram bastantes anos, pode contar-nos como é que aconteceu a sua passagem do FC Porto para o Sporting enquanto jogador?
Óscar Pinto, Algueirão
Se calhar o melhor exemplo é o Paulo Assunção. Se alguém tentar perceber porque razão ele foi embora, o meu caso deve ter sido idêntico. Era titular na Selecção e no FC Porto, mas nunca me valorizaram devidamente. Então, entendi que devia mudar. Se calhar, foi o que aconteceu ao Paulo Assunção e só depois é que ‘Ai, Nossa Senhora’.As suas equipas são tradicionalmente caracterizadas como guerreiras dentro de campo.
Quais os princípios que julga serem os mais importantes para os jogadores assimilarem a sua filosofia?
Vítor Mendes, Vieira do Minho
Há questões que são praticadas nas minhas equipas como em todas as outras pelo Mundo fora. As jogadas de laboratório, os princípios e a organização de jogo, as minhas equipas têm tudo o que as outras têm. Poderá ter um acréscimo que é jogar à minha imagem, deixando tudo em campo, todos os dias, seja nos jogos como nos treinos. Têm de trabalhar sempre ao máximo, com dignidade e lealdade. Isso exige muito de mim todos os dias! Se fosse para o campo de braços cruzados e com um saco de livros debaixo do braço, talvez criasse outra imagem para as pessoas, mas a minha equipa não funcionaria como gosto e isso para mim é o mais importante.
Não considera que o número de estrangeiros que integram o quadro da equipa principal é exagerado?
João Filipe, Salvaterra de Magos
Tenho de dar uma resposta menos concreta porque não fui eu que escolhi este plantel. Para mim, não há nacionalidades, mas sim bons e maus profissionais. Muitas vezes os jogadores portugueses também não têm os princípios que mais desejamos. Portanto, o que interessa é serem bons profissionais e o resto, como a nacionalidade, para mim é secundário.
Treinou o Boavista, o V. Guimarães e agora o Belenenses. Qual considera ser o quarto grande?
António Resende, Milão (Itália)
Muito honestamente, a resposta tem de ser dada pela História e não por mim. Penso que não tenho o direito de responder porque posso ferir susceptibilidades e ser suspeito. No ano passado podia dizer que era o Boavista porque estava lá e agora dizer que é o Belenenses porque estou aqui. Portanto, deixo a resposta para a História.
Dos atletas que já treinou, refira: o mais habilidoso, o que mais gozo lhe deu treinar e o que mais sentiu que se encaixava na imagem que tem de um jogador de futebol.
Rui Costa, Arcozelo
Se calhar, vou ser injusto para muitos. Mas, treinei o Timofte e tecnicamente era fabuloso! Por aquilo que conheci, o Vítor Paneira, Capucho, Zahovic, Sanchez… trabalhei com um naipe de jogadores tão dotados que é difícil dizer quem foi o melhor. É bem mais fácil mencionar aqueles que não prestavam e dos quais não gostava porque eram só meia dúzia. Ainda hoje recordo com saudade muitos jogadores com os quais era um gozo e uma felicidade trabalhar por serem profissionais de excelência. Aqueles que se lembrarem de mim com o mesmo carinho e saudade com que me lembro deles, eles sabem quem são, é deles que falo.
Acha que Casemiro Mior estava a fazer um mau trabalho?
José Gil, Castelo Branco
Não me compete a mim, até por uma questão de ética, estar a julgar o trabalho do meu antecessor. Já foram muitas as situações em que apanho o comboio em andamento e o que tenho a fazer é aproveitar o melhor que ele fez. O mais fácil para mim, agora, era fazer críticas para fragilizar a posição desse treinador. Jamais faria uma coisa dessas! Aliás, nunca o fiz e não era agora que ia começar.
Qual a melhor experiência que viveu em toda a sua carreira desportiva?
João Marques, Fafe
Há muitas alegrias. Uma das coisas que mais gostei foi ter sido jogador de futebol. Às vezes digo que jamais seria melhor agora porque dei sempre tudo que tinha todos os dias. Era só aquilo que fazia. Já tinha sido marceneiro, trabalhava de manhã à noite, e não usufruía do mesmo prazer e satisfação do que quando fui jogador. Tenho 50 anos e, se a minha família não dependesse daquilo que faço, se calhar largava tudo e ia jogar para os amadores! Fui campeão do Mundo, campeão português, estive num Europeu, num Mundial. Estou ligado a muitos êxitos do futebol português e guardarei esses momentos para sempre.
«Tenho a ambição de ser seleccionador nacional»
Qual o seu maior sonho que espera poder realizar-se enquanto treinador?
Nuno Silva, Porto
Há muitas questões que me são colocadas e às quais não posso responder concretamente porque a sociedade não permite que as pessoas falem a verdade. É óbvio que a minha prioridade agora é conseguir ganhar o próximo jogo para fazer uma óptima campanha no Belenenses e poder continuar aqui. Quero deixar isto bem frisado: a minha missão não é fazer um bom resultado para depois ir para um clube grande. Não, eu já estou num clube grande!
Quem foi para si o melhor jogador do Mundo de todos os tempos?
Daniel Pires, Setúbal
Às vezes leio muita gente a fazer a equipa ideal e não acho muito justo porque bastantes pessoas constroem as equipas sem nunca terem visto os jogadores jogar. Está mal. Eu vi o Eusébio jogar, vi o Pelé jogar ainda era eu miúdo, vi o Beckenbauer, o Cruijff, enfim, os melhores. Gostei muito de colegas da minha geração como, por exemplo, Futre, Chalana, Jordão, Gomes, Manuel Fernandes e outros. Mas, o melhor de todos, para mim, foi o Maradona.
Qual é a equipa a praticar actualmente melhor futebol na Liga Sagres?
Márcio Freitas, França
Temos por hábito dizer que esta ou aquela equipa joga bem quando ganha. Por exemplo, o caso do Leixões. Toda a gente diz que joga muito bem, mas se não estivesse a ganhar ninguém falava deles. Para mim, a melhor equipa a jogar futebol é o Arsenal e não ganha nada. Dificilmente consegue vencer algo pela forma como joga. Há maneiras de jogar menos vistosas, mas bem mais eficazes. Em Portugal, é muito cíclico, é jornada a jornada, é o momento. Basta ver que o FC Porto estava numa crise acentuada e, porque ganhou no último minuto em Kiev e nos penáltis ao Sporting, tudo se alterou. Este ano não há uma equipa que jogue melhor em Portugal.
Qual foi a decisão mais difícil que tomou como treinador de futebol?
Diogo, Porto
Muito honestamente, a decisão mais difícil e delicada é sempre dispensar jogadores, por uma questão humana, sentimental e até de sobrevivência. É a coisa que mais me custa. Faço-o, dou sempre a cara, falo, mesmo em situações em que por várias razões não seja a pessoa mais indicada para o fazer. É óbvio que em alguns casos também não custa nada dado os antecedentes. Às vezes, até dá gosto e prazer…
Pensa vir a ser sócio do Belenenses?
Carlos Faísca, Lisboa
Já sou.
O que acha que faltou ao Zé Pedro para, há uns anos, não vingar no Boavista?Carlos Rodrigues, Barreiro
É tão fácil quanto isto: o Deco não brilhou logo no Benfica, há um percurso. Por exemplo, jogava no Rebordosa e fui para o Aliados de Lordelo, na 3.ª Divisão. Era considerado um dos melhores jogadores da equipa, fui treinar à experiência no FC Porto e fiquei, passando a ser um jogador secundário. Eram tantos e tão bons que fiz um caminho progressivo. O Zé Pedro vinha de uma 2.ª Divisão B e, se calhar, o DVD dele correu os treinadores todos e só eu é que o contratei. Na altura, o Boavista estava em alta e ele precisava de um período de adaptação. Por uma questão de evolução mais rápida, entendi que era melhor para ele competir. A partir daí, foi jogando e evoluiu naturalmente. Depois, pediu para ser cedido ao V. Setúbal e no final da época suplicou-me para sair do Boavista por motivos familiares. Tentei demovê-lo, mas, contra a minha própria vontade pois contava com ele, decidi deixá-lo sair por uma questão humana, com o Boavista a conseguir ganhar algum dinheiro.
Que sentimentos guarda em relação ao seu colega de profissão José Mourinho: inveja, orgulho no trabalho que ele tem realizado ou mantém rancor no âmbito das quezílias que mantiveram?
Paulo Cardoso, Angra do Heroísmo
Não tenho nem inveja, nem rancor, nem sou prepotente. Se me ferirem ou magoarem, geralmente nem ligo muito. Agora, não admito que o façam a nível humano. O Paulo Cardoso deve ser, e tem motivos para isso, um fã incondicional do José Mourinho, mas eu sou ainda mais fã incondicional dos meus valores e princípios, os quais a sociedade deixou de enaltecer. Além disso, não tenho motivos para ter inveja de ninguém. Basta ver o meu currículo como jogador e treinador…
Gostava de treinar a selecção nacional?
Nélson, Odivelas
Gostava. Nos tempos áureos, quando se chegou a falar do meu nome em algumas sondagens sobre o assunto, sentia que ainda não estava preparado, nem tinha idade para isso. Por uma questão de timing, não me devo pronunciar, mas naturalmente que também sonho e tenho a ambição de ser seleccionador nacional. É o facto máximo a que qualquer treinador pode ambicionar.
Espera levar este Belenenses até onde?
Nuno Sousa, Sines
Tenho muitas ambições, mas têm algum limite que passa sempre por ganhar o jogo que se segue e conseguir a melhor classificação possível este ano. Vou procurar que o clube crie a estabilidade necessária para poder fazer uma 2.ª volta melhor. Há que criar uma solidez que permita aos adeptos confiarem em nós e já está a existir uma enorme empatia. Queremos fazer uma classificação honrosa que no final nos permita dizer que chegámos ao máximo das nossas capacidades e que não era possível ter ido mais longe.
Sente-se injustiçado por nunca ter sido convidado para treinar um grande português?
Ricardo Eugénio, Maia
Eu já fui convidado. Só não digo por quem porque ainda estou em actividade.
Acha que o Liedson é o avançado que falta a Portugal? Ainda o considera um artista?
Fábio Felizardo, Fogueteiro
As pessoas, muitas vezes, não entendem nem percebem o sentido das nossas declarações. Nos dias que antecedem o jogo, fazemos algumas declarações para criar instabilidade e fragilizar o adversário. Às vezes, não é o que sentimos, queremos é criar algum impacte para fazer mossa e criar uma fricção negativa nos adversários. Só quem não anda e não percebe o que é o futebol é que não gosta de um jogador como o Liedson. Mesmo aquelas habilidades todas que faz são uma forma inteligente de actuar. As minhas declarações na altura não foram para ofender ou prejudicar ninguém, mas apenas para tentar desestabilizar o jogador. Quanto à questão de ir à selecção, penso que neste momento Portugal tem avançados e, apesar de o Liedson poder abrir mais possibilidades, não é o mais importante para a nossa selecção.
Gostou da maneira como foi recebido no Restelo? Sente que os adeptos estão consigo e com a equipa?
Frederico Tavares, Lisboa
Entendo que aqueles confrontos directos com o Boavista tenha criado alguma antipatia em relação a mim porque ganhava muitas vezes e ficava quase sempre à frente do Belenenses. Basta ver que nunca perdi aqui no Restelo com o Boavista e isso criou alguns anti-corpos. Depois, um diário desportivo também criou aquele episódio com o Zé Pedro que nunca existiu. Às vezes, podia ter havido uma má recepção, mas não foi o caso. Lembro-me que trouxe o cachecol do Belenenses na apresentação porque as pessoas têm de perceber uma coisa: estive muitos anos no Boavista, mas a lealdade, empenho, garra e vontade de ganhar que tive lá, tenho aqui! Aquilo que fui no Boavista serei aqui no Belenenses.
Por que motivo, depois de ter feito três épocas no Sporting, voltou ao FC Porto?José Palma, Queluz
Joguei duas épocas no Sporting e, antes de terminar contrato, fui abordado por outros clubes. Sempre pensei que o Sporting pudesse criar outras condições que não se tinham verificado até ali. Entrei no clube numa fase crítica, também fui operado a uma pubalgia e não me sentia realizado porque queria ganhar mais vezes. Senti que ali não havia valores suficientes para isso acontecer. Lembro-me que na altura estive quase a dar uma entrevista a dizer que mesmo se o Sporting contratasse o Maradona, não ganhava nada. Não havia ali as condições ideais para se ganhar, apesar de ser o clube onde fui melhor tratado. Mas, regressei ao FC Porto devido à enorme vontade que tinha de ganhar títulos!
Não sente que paga a factura por ser sempre directo e frontal nas diferentes abordagens que lhe são colocadas? Sente que continua a valer a pena?
Paulo Tavares, Montijo
Tenho a consciência de que isso me traz consequências negativas no momento. Contudo, fazendo uma retrospectiva, acho que vale a pena ser como sou! Deixo a elegância para os alfaiates e a verdade digo-a logo na altura porque não tenho ‘rabos de palha’. Só não tenho uma boa relação com 3 ou 4 jogadores que não gostavam de treinar e depois diziam que eu era mau. Aqueles que não eram profissionais a serio é que dizem mal de mim, pois os que foram trabalhadores honestos são todos meus amigos. Se há coisa que me orgulho é levar os meus dois filhos pela mão e ouvir elogios ao pai.
È verdade que recusou uma proposta do Blackburn depois de ter ingressado no Maiorca?
Jorge Nozes, Porto
Não é verdade. Tive convites de outros clubes ingleses antes de ir para Espanha, tal como quando jogava fui convidado pelo PSV e pela AS Roma. Nunca disse isto, mas o Eriksson queria levar-me para Roma. O Toni sabe bem que é verdade porque foi ele que me chamou ao telefone para falar com Eriksson. Mas, por isto ou por aquilo, nunca deu…
Considera o Professor Carlos Queiroz a escolha indicada para guiar a Selecção ao Mundial de 2010?
Bruno Careca, Lisboa
Costumo dizer, na brincadeira com os meus amigos, que gostava de ser eu o seleccionador e, se não for, então que seja qualquer um. É óbvio que tenho as minhas opiniões e opções, mas se as expressar posso ser mal aceite, independentemente de até serem favoráveis a Carlos Queiroz. A minha obrigação é apoiar sempre o seleccionador, seja ele quem for. E não faço questão de dizer que ele já devia ter vindo cá falar comigo. Venha ou não venha, estarei sempre do lado dele e disponível para ajudar.
«Não sou apologista de empréstimos»
Como faz a articulação com os restantes elementos da equipa técnica? As decisões finais, tais como decidir o onze titular, são somente ideias suas ou ouve os restantes elementos?
Carlos Silva, Sintra
Eu ouço os meus colaboradores em tudo. Por isso é que temos uma relação de mais de 10 anos, mas estão actualizados, até mais do que quem sai agora dos cursos de treinador. Temos uma relação de família porque sempre houve respeito entre todos. Conversamos muito e, por exemplo, o Figueiredo já parece que trabalha comigo há imenso tempo. Às vezes tenho dúvidas sobre a equipa e faço questão de ouvir a opinião deles. É óbvio que sou eu que tomo a decisão, mas não penso que sei tudo.
Já fez a sua obrigação de ir comer um pastel de Belém?
João Mota, Seixal
Felizmente, os pastéis de Belém sobem a rampa e vêm ter comigo. Sou um pasteleiro por natureza e gosto muito de bolos, desde que sejam pequenos. Que bem me sabem quando vêm quentinhos e, sempre que posso, até os levo para o Norte. Vim para o clube certo. Mas, para ser sincero, não tive muito tempo pois nem sequer fui ao Mosteiro dos Jerónimos que é aqui tão perto do estádio! Ainda estou a situar-me e trabalho de manhã à noite porque adoro o que faço. Aliás, já disse que, se ganhasse à hora, o clube estava tramado para me pagar. Na semana passada andei dois dias com o fato de treino vestido… Talvez lá para a Primavera tenha tempo livre para desfrutar da beleza que Lisboa tem.
Quem foi o treinador que o marcou mais enquanto futebolista e quais os treinadores no activo que são sua referência?
Cláudio Fernandes, Évora
Normalmente, os jogadores só gostam dos treinadores que os colocam sempre a jogar. O treinador com quem menos joguei em toda a minha carreira foi o senhor Pedroto e, para mim, foi o melhor e aquele que mais me marcou. Estive 2 anos com ele e só joguei no segundo, quando até os meus colegas dizem que o meu melhor ano foi o primeiro pela forma como treinava. Para mim, o senhor Pedroto ainda seria o melhor hoje porque tinha uma sabedoria genuína. Entre os actuais, não valorizo muito os que têm orçamentos milionários. Gosto do Martin O’Neill, actualmente no Aston Villa. Tem uma equipa bem montada, bem estruturada e com jogadores como gosto, rápidos e com atitude. É a minha grande referência, apesar de o Alex Ferguson ser uma figura mundial. Tem princípios, já ganhou tudo, mas tem uma paixão fantástica pelo jogo. Dá gosto vê-lo a festejar os golos.
O que acha da possível implementação das novas tecnologias no futebol?
Luís Ruivo, Lisboa
Em termos experimentais, devemos fazê-lo. Basta recordar a dúvida antiga sobre se aquele golo da Inglaterra à Alemanha no Mundial de 1966 foi válido ou não. Há situações que decidem a vida de muita gente com uma má decisão, às vezes involuntária. Estou de acordo com tudo o que seja para melhorar em casos específicos como os golos duvidosos. Agora, em foras-de-jogo ou faltas não tem cabimento, senão o jogo teria uma eternidade.
Porque razão as equipas que você treina são sempre faltosas e agressivas?
Nuno Maia, Póvoa de Santa Iria
Não são não. Se uma equipa grande ou do gosto do Nuno Maia fizer isso e ganhar, o leitor falará de amor à camisola e dirá que são lutadores e dignificam os adeptos. Todas as semanas vejo na nossa Liga expulsões, agressões, faltas e mais faltas e não sou eu o treinador. Na altura, fui apelidado assim porque ganhava aos grandes e havia muita gente a quem não interessava que o Boavista fizesse isso. Então, colocaram-me esse rótulo, ao ponto de alguns jogadores serem assim e depois, quando chegam aos grandes, já passarem a ser considerados grandes profissionais. É uma frase feita, se calhar encomendada e bem propagandeada para me prejudicar. Pergunto ao Nuno: gosta de um jogador da sua equipa preferida que não meta o pé, não corra, não faça um carrinho e não lute? Sinceramente, não acredito que goste.
Qual é o segredo para liderar uma equipa de futebol?
Miguel Caetano, Cadaval
Penso que não há segredo, a liderança é natural. Na vida privada, às vezes falamos alto para ter razão ou repetimo-nos para esconder alguma fragilidade. Aqui, temos tantos departamentos integrados e todos, cada um no seu espaço, respeitamo-nos mutuamente e, repito, a liderança é natural.
Concorda com Manuel José, quando ele diz que há falta de seriedade no futebol português?
André, Coimbra
O Manuel José foi meu treinador e é uma das pessoas que respeito e admiro. A nível de clubes, penso que já teve as oportunidades dele em Portugal porque já treinou o Benfica, o Sporting duas vezes, já andou por todos os clubes à excepção do FC Porto. Penso que merecia uma oportunidade como seleccionador. Agora, não sei a que se refere quando fala de seriedade. Entendo que isso não é para ofender nem insinuar nada drástico. Interpreto que seja por aquilo que é preciso fazer para chegar a determinados lugares, ou seja, ter ‘palheta’. Em Portugal, fala-se muito e faz-se pouco e só assim se percebe que certos treinadores apareçam do nada a treinar grandes equipas. Se calhar, ele refere-se a essas coisas e não fala em termos pejorativos.
Acompanha os resultados e os jogos de outras modalidades onde o Belenenses é forte, como o andebol, o râguebi e o futsal? Ficou a conhecer melhor o ecletismo do clube?
José Ferreira, Aveiro
O ecletismo é-nos dado a conhecer logo nos painéis publicitários do Restelo. É verdade que um dia destes fui ver um jogo de futsal porque é uma das minhas grandes paixões. Se calhar, estou a padecer de um joelho ao qual fui operado porque jogava futsal todos os dias e entrava em torneios com jogadores com idade para serem meus filhos. Gosto de hóquei em patins e de ciclismo, não gosto muito de jogos com a mão. Prefiro jogos com o pé e acompanho as modalidades. A propósito, não tem cabimento o castigo ao meu colega Alípio Matos por declarações. Que democracia é esta?
Qual é o seu clube de coração?
José Farinha, Castelo de Vide
O Aliados de Lordelo porque é o clube da minha terra. Falo sempre no Rebordosa, um rival do Aliados, onde comecei a jogar e do qual falo sempre porque as pessoas foram boas e ajudaram-me. Mas, a minha paixão é o Aliados de Lordelo.
Sendo um treinador com muita garra e entrega, que jogador vê com essas mesmas características?
Francisco Candeias, Portimão
Há muitos, em Portugal e não só. Jogava assim e não era maldoso. Gosto de todos os jogadores que se entregam de alma e coração ao jogo e aos treinos, sempre para ganhar. São esses que encarnam as minhas características.
Qual dos jogadores menos utilizados do Benfica gostaria de ter na sua equipa por empréstimo?
Vítor Santos, São Pedro da Cova
Honestamente, não sou muito apologista dos empréstimos. Prefiro comprar um jogador na 2.ª Divisão ou ir buscar à formação. Os empréstimos são uma solução do momento, em que por vezes estamos a impedir o surgimento de um jogador nosso. Em detrimento de investir no presente e no futuro, estamos a valorizar um jogador para os outros. Mas, por vezes, até por dificuldades dos clubes, temos de recorrer a eles. Quanto à questão, teria de ser um jogador que alinhe pelas alas porque só tenho o Vinícius e o Wender. O Benfica que escolha…
Sente necessidade de ir ao mercado de Inverno ou acha que o plantel é adequado às exigências?
Luís Sampaio, Lisboa
Não é justo nem correcto dizer se posso ir buscar jogadores nessa altura. Se tiver essa ideia tenho de a guardar para mim. Não posso, nem devo, pôr em causa ou questionar o valor destes jogadores, que têm sido excepcionais. Como em tudo na vida, há uns melhores do que outros, uns mais avançados do que outros em termos dos princípios que preconizamos, mas têm sido todos excepcionais.
Foi melhor como jogador ou agora como treinador?
Hugo Domingues, Lisboa
Se me quiser valorizar, e como o presente é que conta, direi que sou melhor como treinador. Deixo isso ao critério das pessoas, mas como adorava jogar futebol, digo que era melhor jogador. Embora dependesse muito da equipa, podia valer-me de mim próprio para ser titular indiscutível e fazer prevalecer o meu valor. Como treinador, é óbvio que o nosso trabalho é importante, mas dependemos de factores como 2 ou 3 jogadores terem problemas com a namorada ou a mulher. Isso é suficiente para afectar o seu rendimento em campo, o que pode comprometer um resultado e colocar em causa a vida do treinador.
Tem vontade de ficar no Belenenses para além deste ano, formando uma equipa à sua imagem e projectando o clube ao patamar que merece?
Tiago Soares, Lisboa
Já disse que o meu objectivo principal é fazer um bom trabalho este ano para poder dar continuidade à minha estadia aqui. Estou a gostar do clube e, como profissional, quero retribuir a confiança que depositaram em mim.
«Sonho voltar a ser campeão»
Qual foi o melhor grupo de trabalho em que esteve inserido, quer como treinador, quer como jogador? E porquê?
Rui Silva, Torres Novas
Como jogador, foram todos porque me dava bem com toda a gente, tanto os colegas como os adversários. Ainda hoje, convivo com muitos jogadores com quem joguei como, por exemplo, o Gomes, o Frasco, o Lima e outros. Também tenho a visita aqui no Restelo de alguns ex-colegas do Sporting, outros ligam-me. Se o futebol me deu algo, foi um lote de grandes amizades. Como treinador, só há bom ambiente quando se está a ganhar. Por isso, posso dizer que tive quase sempre bons balneários
Ainda é sócio do Boavista?
David Flores, Lisboa
Não tenho as quotas em dia, mas sou.Sonha em voltar a ser campeão na Liga portuguesa?Pedro Carvalho, BragaSonho. É uma das coisas pelas quais mais ambiciono. É óbvio que para isso ser mais acessível, é preciso treinar um dos grandes, mas dava prazer voltar a consegui-lo numa equipa sem esse estatuto, como já consegui no Boavista.
Qual é o melhor jogador da Liga Sagres? E do Mundo?
João, Covilhã
Tenho pena que às vezes o Cristiano Ronaldo, como sucedeu com o Brasil, não faça mais porque é o jogador de que mais gosto. É preciso dizer que ele é ainda um menino. Também gosto do Messi e outros que, sem terem o protagonismo deles, são bastante importantes nas respectivas equipas. Costumo dizer que os que roubam a bola e passam a quem sabe, também são fundamentais. O Ronaldinho Gaúcho já teve o seu espaço e agora não está tão bem. Porquê? Porque não está bem fisicamente, daí a importância de trabalhar sempre ao máximo. Quanto à Liga Sagres, já não existem tantos bons jogadores como existiam há uns anos e basta ver que dos 30 jogadores de selecção, poucos jogam em Portugal. Pelo que vejo nas equipas grandes, penso que tenho aqui dois jogadores, o Silas e o Zé Pedro, que mereciam ter ido mais longe. Não sou saudosista, mas hoje não hoje jogadores como o Alves, Jordão, Chalana ou Futre. Basta ver que nas habituais equipas de todos os tempos surgem sempre jogadores antigos. Sinceramente, com apenas 8 jornadas disputadas, não dá para apontar o melhor jogador desta Liga Sagres.
Como treinador qual a avaliação que faz ao ex-jogador Jaime Pacheco? E enquanto jogador gostava de ter tido um treinador como o… Jaime Pacheco?
Pedro Castro, Póvoa de Santa Iria
Gostava de ter sido treinado por uma pessoa como eu. Não há comparação, porque ele é muito melhor do que eu, mas o senhor Pedroto também exigia e dava tudo. Gostei bastante de ser treinado pelo Manuel José e pelo Manuel Fernandes, que também foi meu colega como jogador.
Qual foi a maior desilusão da sua vida desde que está no futebol?
Vasco Galego, Elvas
Foi não ter à final da Taça UEFA. Fizemos tudo para ganhar ao Celtic, tínhamos todas as condições para o conseguir, mas aquele não era o nosso dia. Não fomos felizes. Calámos os adeptos do Celtic, o que não é nada fácil, e depois num ressalto de bola, o Larsson falhou o pontapé e acabou por marcar.
Qual o melhor jogo que fez e que mais recorda como jogador e como treinador?Sérgio Martins, Coimbra
Às vezes, era considerado o melhor em campo quando não tinha gostado da minha exibição. Noutros jogos, considerava ter jogado muito bem e não era destacado pela crítica. Penso que fiz vários jogos bons, mas lembro-me de um FC Porto-Benfica, em 88/89, que vencemos por 3-0 e em que fiz 2 golos, e de um FC Porto-Abeerdeen que ganhámos por 1-0, golo do Gomes. Nesse fui marcado homem a homem e consegui fazer um jogo muito bem conseguido. Como treinador tive grandes jogos, quer no V. Guimarães, quer no Boavista, quer até no U. Lamas, em que empatei 0-0 nas Antas. Um jogo perfeito acho que foi o empate em Liverpool, num 11 de Setembro, em que merecíamos ter ganho. Há ainda outros jogos simples que nos marcam como, por exemplo, o que tive agora na Amadora, em que joguei muito tempo só com 10.
Quais são para si as maiores qualidades de um guarda-redes que orientou durante anos, o Ricardo?
Teodomiro Contramestre, Montijo
O Ricardo tem uma coisa boa: gosta do que faz. É um apaixonado pela profissão que exerce, gosta muito de futebol. Ele treina todos os dias como se disso dependesse a sua vida! Ele não treina para sobreviver, mas sim para viver. Para mim, seria o guarda-redes ideal se tivesse mais um palmo porque gosto de guarda-redes altos. Agora, é dos melhores a meter a bola na frente porque chuta muito bem. Além de marcar penáltis, estive tentado a deixá-lo marcar livres porque o fazia muito bem. Depois, é um ser humano do melhor que há à face da terra. Por acaso, ligou-me há pouco tempo. Tenho muito orgulho nos meus filhos, mas, se me disserem que o meu filho vai ser igual ao Ricardo, não me importo. Tivemos alguns arrufos, passou alguns jogos no banco comigo, mas nunca levei isso a sério porque ele trabalhou sempre bem e ia sempre à frente do pelotão em todos os exercícios.
Qual o melhor treinador português do momento?
Fábio Carvalho, Tomar
Para mim, é o José Mota porque vai à frente da Liga. Com o orçamento que tem fez uma bela equipa e, de momento, ele é o melhor. Até podia ter inveja dele porque é meu vizinho…
Você no banco está sempre a falar com os jogadores, a gesticular para dentro de campo. É assim tão eléctrico no dia-a-dia com a família?
Luís Godinho, Estremoz
Não. Costumo dizer que em casa sou um gatinho. As pessoas não imaginam o que representa para mim estar num campo a jogar com uma bola. Cá fora, tento ajudar os jogadores da melhor forma possível. Falo para os incentivar, gosto de participar no jogo para que eles percebam que no banco está alguém que os quer ajudar, proteger, dar-lhes força anímica e alma. É verdade que se usasse gravata e ficasse quieto no banco, sentado, de perna cruzada, se calhar valorizava-me de outra maneira. Mas, o que vale é o trabalho que a gente faz e não outras coisas.
No comando do Boavista, alguma vez lhe passou pela cabeça poder conquistar a Taça UEFA?
Alexandre Santos, Peniche
Sim, tive esse pensamento antes do golo do Larsson porque quem vai à final está sujeito a tudo. Depois de passarmos algumas equipas poderosas como o Hertha de Berlim, o PSG do Ronaldinho Gaúcho e o Málaga, fomos ao campo do Celtic, onde vi o melhor ambiente da minha carreira como jogador e treinador. É um espectáculo! A 10 minutos do fim, o Silva tem uma oportunidade clara para marcar, mas cabeceou à rede lateral. Senti que podíamos ter chegado à final da UEFA e ganhá-la. Na altura, já tínhamos vários meses de ordenados em atraso e os jogadores foram bravos até ao fim. Essas coisas deixam marcas para toda a vida.
Como pensa que deveria ser tratada a situação dos salários em atraso e os problemas financeiros nos clubes?
João Paulo Ferreira, São João da Madeira
Às vezes, as Direcções dos clubes têm culpa na planificação das coisas. Se não há receitas programadas, têm de ser mais comedidas nos orçamentos. Se não puderem ter um plantel de 25 jogadores, então tenham só 18 e acrescentam-se mais 4 ex-juniores. Até porque agora há a oportunidade de dar uns retoques em Janeiro. Depois, penso que devia haver uma intervenção da Liga, Federação e do próprio sindicato dos jogadores no sentido de, quando houvesse incumprimento, parar os campeonatos. Assim, estou certo de que os dirigentes iam movimentar-se mais porque sentiriam os prejuízos. Por fim, o Estado devia baixar os impostos porque não há nenhum país do Mundo que nos dê tão pouco e nos tire tanto.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário