quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Estatutos e Actividades não desportivas


Nos Estatutos do Clube de Futebol «Os Belenenses” é definido de uma forma muito clara no seu Art.º 6º que : ” O C.F.B. é alheio a todas as doutrinas políticas e a todos os credos religiosos”.

Foi nos enviado uma brochura de uma associação religiosa a divulgar uma sua organização que terá lugar no Estádio do Restelo no próximo dia 10 de Abril e onde consta a utilização do nome do clube, tal como as imagens demonstram

Se já nos parece discutível, face aos estatutos, a cedência das instalações para reuniões de carácter politico ou religioso, não temos dúvidas nenhumas em afirmar que é abusivo a utilização do nome Belenenses numa publicação de carácter religioso e ofensivo para todos os sócios e simpatizantes que têm outros credos.

A lógica comercial não se pode sobrepor aos princípios éticos que norteiam a existência do Clube.

Aguardemos que a Comissão de Gestão tome uma posição muito clara e inequívoca sobre este abuso por parte da entidade organizadora do evento.

Guardiã do Templo

É com uma simpatia a toda a prova que Ana Linheiro abre a O JOGO, orgulhosamente, as portas da Sala de Troféus do Belenenses. Esta mulher, cuja história se entrelaça com a do clube, não esconde um efervescente brilho nos seus olhos cada vez que aponta uma taça, uma salva de prata, uma medalha, um galhardete. Hoje, com uns 80 anos muito jovens, a ex-atleta, ex-dirigente e sempre belenense Ana Linheiro mantém o mesmo espírito alegre de sempre e, com orgulho, exibe os símbolos de momentos altos do clube com o qual a sua vida se confunde.

A vida de Ana Linheiro e a vida do Belenenses têm muito em comum. Nascida em Lisboa, em 1928, a guardiã do templo da memória do emblema do Restelo, só chegou ao mundo nove anos após a fundação do clube (1919). Como tal, a sua existência atravessou todos os grandes momentos do Belenenses, entre eles a inauguração do Estádio do Restelo, a conquista do campeonato nacional de 1945/46, o erguer das Taças de Portugal em 1941/42, 1959/60 e 1988/89, a estreia do Estádio Santiago Bernabéu, em 1947, onde os azuis foram os convidados especiais do gigante Real Madrid. Hoje, sócia número 94, Ana Linheiro lembra como lhe insuflaram o Belenenses no coração. "Foi o meu pai, o meu companheiro de sempre, quem me trouxe para o Belenenses e nunca mais me passou pela cabeça mudar para outro clube. Estou aqui por amor", confessa a O JOGO.

Viúva muito nova, aos 46 anos, "dona" Ana trabalhou até à reforma no Ginásio Clube Português mas ainda teve tempo de integrar a Junta Directiva belenense de 1967 e, depois, dirigir a secção de râguebi, nos anos 70. Desde que se reformou, aos 62 anos, gere a Sala de Troféus do Belenenses, onde tem feito um trabalho exemplar de preservação da história de um dos grandes de Lisboa.

Casamento desviou a atleta
A ligação efectiva (e afectiva) de Ana Linheiro ao Belenenses vem desde os seis anos, quando começou a fazer ginástica no clube; aos 13 apaixonou-se pela natação e competiu até aos 17, ganhando provas, batendo dez recordes nacionais. "Havia poucas raparigas na natação e, em muitas provas, o meu adversário era o relógio", conta. Os treinos, esses, eram sozinha, no Algés e Dafundo, onde havia piscinas, uma raridade de então. O casamento, aos 18 anos, levou-a para o Alentejo e lá se foi a carreira de atleta. "No Alentejo, nessa altura, desporto era só mesmo andar de bicicleta…", recorda, sorrindo

História do Belenenses ganha corpo em 800 páginas
Ana Linheiro, actual responsável pela organização e gestão da Sala de Troféus do Belenenses, vai lançar hoje um documento histórico onde todo o passado do clube do Restelo surge compilado de forma sintética e acessível. O JOGO espreitou a obra, de cerca de 800 páginas, que recorda, data a data, os principais factos e feitos da vida belenense desde a sua fundação, em 1919, até ao fim do século, em 1999. Ana Linheiro, de 80 anos, conta que todo o trabalho foi feito por si neste livro chamado "Datas e factos memoráveis de 1919 a 1999 do CF Os Belenenses". "Comprei um computador há quatro anos e achava que o Belenenses tinha de ter um livro destes. Acácio Rosa [ex-presidente] deixou-nos alguns livros, com histórias do Belenenses e, se não fosse ele, eu começaria do zero. Depois, tive de ir muitas horas para a Biblioteca Nacional consultar notícias dos jornais da época. Não tive ajuda de ninguém mas trabalhei com gosto, pois era para o meu Belenenses.", diz. Para 2010, Ana Linheiro pretende editar o resto da história do clube, de 1999 ao presente, de forma a deixar completa a cronologia belenense. O livro que agora vai ser lançado tem como mercado preferencial os sócios e adeptos do emblema do Restelo

Taça de Portugal foi marcante
Os anos a viver no Alentejo impediram Ana Linheiro de ir, tanto quanto desejaria, ao futebol. Mas, na final da Taça de Portugal em 88/89, frente ao Benfica, esteve no Jamor. "Foi uma grande emoção, pois ninguém achava que ganhássemos. Até os do Benfica pensavam que não lhes íamos dar trabalho mas tiveram azar...", lembra, a sorrir.

Sequeira é cromo por emparedar
Numa das paredes da Sala de Troféus, há fotos de todos os ex-presidentes menos do último, Fernando Sequeira. A gestão foi curta, o desaparecimento total e nem uma foto ficou para a posteridade. Mas Ana Linheiro não vai desistir de completar a colecção com este "cromo".
Os ilustres Jorge Sampaio e Cavaco Silva
Visitantes, já Ana Linheiro viu muitos entrar pela porta. Entre eles, recorda Jorge Sampaio e Cavaco Silva, enquanto Presidentes da República. Ambos gostaram do que viram, assegura.

À espera de Pacheco
Lugar de memórias, a Sala de Troféus é visitada, no início de cada época, por todo o plantel. Esta temporada não foi excepção e o grupo, no dia da apresentação oficial, passou por lá, com o técnico Casemiro Mior. Já Jaime Pacheco, ainda não teve oportunidade de fazer uma visita e Ana Linheiro destaca como seria importante os atletas voltarem a ver, de vez em quando, aqueles dois pisos de troféus. "Seria bom para os relembrar da grandeza deste clube", explica. Sobre a carreira da equipa esta época, é directa: "Espero que os jogadores saibam o que andam a fazer pois este clube não é para brincar. Antigamente, os jogadores lutavam por esta camisola mas agora são de várias camisolas, não têm o mesmo amor. É preciso salvar o Belenenses, já estivemos vezes demais na segunda divisão", avisa

Uma rival alemã em águas paradas
Muitas são as histórias que Ana Linheiro partilha ao sabor da conversa. Uma delas, remonta à sua juventude, quando nadar era uma paixão. Sem grande concorrência, "dona Ana" lembra a grande adversária do seu tempo em águas paradas. "Era uma alemã que vivia no Estoril e que me dava luta. Ela ganhava-me em kroll, eu ganhava-lhe em costas… Mas era a única adversária", diz.

Saulo: «Quem vai pagar o pato é a Naval»

USA DITADO BRASILEIRO ANTES DO REENCONTRO
Saulo voltou a treinar-se sem qualquer limitação e diz-se pronto para alinhar domingo frente à sua antiga equipa. Apesar de ter deixado muitos amigos na Figueira da Foz, e de ter muito respeito pelo clube, o avançado recorre ao humor e usa um ditado brasileiro na antevisão do confronto: 'Quem vai pagar o pato é a Naval.'

A expressão significa que alguém vai pagar pelos atos de outros e, neste caso, só tem uma leitura: Ulisses Morais não contava com o jogador, deixou-o sair e, a sua equipa é que vai sofrer as consequências por isso.

Saulo assinou pelo Belém no mercado de inverno, dias depois da Naval o ter libertado, pensando que o jogador regressaria ao Brasil
'Esta época, o mister não contava comigo. Respeito a sua decisão mas, se já era mau ficar meia época parado, pior seria estar a temporada inteira. Por isso, pedi para sair', conta Saulo, antes de recordar: 'O presidente disse que eu podia sair para o Brasil. Quando viu que assinei pelo Belenenses ficou chateado mas falei com ele e está tudo bem.'

Em relação ao jogo, o brasileiro quer vencer mas garante: 'Tenho muito respeito pela Naval, deixei lá muitos amigos, mas agora defendo outro clube e sou profissional.' E se marcar golo, o que vai sentir? 'Se marcar, festejo só para mim, mas o mais importante é o Belenenses ganhar', afirma.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Especialista surpresa marca desde criança

GÓMEZ MARCOU 1.º GOLO DE LIVRE EM PORTUGAL

Gómez surpreendeu até os sócios do Belenenses. Em Matosinhos, ao minuto 42, o médio esperou que a barreira do Leixões se formasse, reparou na colocação de Beto e bateu a falta com precisão, colocando a bola 'na gaveta' como dizem os adeptos. O golo, o seu primeiro de livre direto em Portugal, não chegou para vencer, mas garante aos azuis um novo especialista nestes lances

Ontem, no Restelo, ainda se falava do golo. Foi sorte? O Belém beneficiou do facto de Beto esperar pelo remate de Zé Pedro, o habitual marcador? Ou Gómez tem mesmo jeito para as bolas paradas? A resposta certa é a terceira: o médio sabia bem como colocar a bola por cima da barreira e dentro da baliza

O gosto por marcar livres nasceu em criança. Já nas camadas jovens Gómez ficava a bater livres após os treinos. Com uma barreira a 9,15 metros, tentava colocar em jeito, por cima dos bonecos. A recompensa pelas horas perdidas surgiu logo na estreia na Liga do Panamá. Com apenas 14 anos, entrou a 15’ do final e, pouco depois, marcou de livre direto o primeiro golo da carreira. Na seleção panamiana de Sub-17 também fez vários assim.

Na época passada, Gómez não estava autorizado por Jorge Jesus a marcar os livres. Agora, com licença para rematar, espera marcar mais golos desta forma.

Vinícius afunda Belenenses na Liga

Com apenas três triunfos o Belenenses, agora último classificado, é a equipa da Liga Sagres com menos vitórias. Vai valendo aos azuis os sete empates registados, o que os torna na segunda formação, a par do Benfica, com mais nulos, numa tabela liderada pelo Leixões (8). Foi precisamente diante dos leixonenses que o Belenenses conquistou o último empate, muito por culpa de Vinícius, que desperdiçou o golo do triunfo em cima do apito final. Ontem o jogador revelou que teve "dificuldades em adormecer" e que o treinador Jaime Pacheco lhe "transmitiu tranquilidade" para o próximo jogo, frente à Naval, equipa que os azuis nunca venceram no Restelo. No plano clínico, Cândido Costa lesionou-se na coxa direita e hoje será reavaliado.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Record - 23/02/2009


P.S. - Clique na imagem para ampliar

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Dos pés do rei Saulo sai o toque de Midas




PEDRO MIGUEL AZEVEDO

A história de Saulo no Restelo vai ganhando um corpo místico a cada jornada. Desde logo, na sua estreia na Liga, contra o FC Porto, onde um remate seu se desviou misteriosamente no corpo do ex-belenense Rolando e entrou na baliza de Helton. Não valeu nem uma vitória nem um ponto, é verdade, mas que assustou os dragões é indesmentível. Menos sorte teve o Paços de Ferreira, que, em casa, na jornada seguinte, abanou com o golo de Saulo logo aos 6' e teve de correr atrás da desvantagem para ainda salvar um empate.

O último capítulo da história de Saulo leva-nos à recepção ao Sporting. O extremo abriu caminho para a vitória belenense, com uma assistência para Marcelo, mas, na ponta final, o colectivo não foi capaz de segurar o ouro. Aliás, a carreira de Saulo até ao momento no Restelo acaba por fazer lembrar uma das versões da mitologia grega. A tal onde o deus Sileno perdeu o seu rumo em terras do rei Midas, que o conduziu de volta à sua terra. Aí, Dionísio, deus do vinho e da festa, agradecido pelo gesto de Midas, ofereceu-lhe o dom de poder transformar em ouro tudo aquilo em que ele tocasse. Ora, idêntico dom parece estar nos pés de Saulo, que em três jogos consecutivos tem dado forte ajuda ao Belenenses, apesar de deles ainda não ter nascido uma vitória. Agora, ultrapassado o pior ciclo do Belenenses na Liga, será tempo de ver se Saulo continuará a dar um toque mágico. Segue-se o Leixões como novo teste a este "poder".

Derrubado por... Ulisses
Saulo foi lançado em Portugal no Maia (Liga de Honra), mas foi no Rio Ave, com Carlos Brito, que debutou no escalão maior. Habituado a ser titular, o extremo cimentou esse estatuto nas três épocas na Naval, mas seria mais uma ironia mitológica a derrubá-lo do "Olimpo" navalista: Ulisses [Morais]. O técnico afastou o extremo das suas principais opções nesta temporada, dando preferência a atletas contratados na última pré-época. Pela Naval, Saulo só jogou cerca de 20', na 11.ª jornada. Mas o tempo está a mostrar que Ulisses Morais talvez tenha feito mal as contas...

Passar a conhecer, e bem, João Florêncio
RUI GUIMARÃES

No Verão de 2006, na definição dos plantéis para a nova época, era preciso descobrir quem ia ocupar o cargo de treinador da equipa de andebol do Belenenses, já que José Tomaz estava de saída para regressar ao Sporting.

Lembro-me de uma noite, já em casa, em que liguei a Vítor Ferreira, então vice-presidente para o andebol, que me deu o nome de João Florêncio. Confesso a minha total ignorância na altura: "Quem?!" - exclamei.

Florêncio vinha da Académica da Amadora e há mais de 20 anos que não estava ao mais alto nível, depois de 35 épocas no Passos Manuel.

Leva um quinto e um terceiro lugar e o correspondente apuramento para a Taça EHF, fazendo renascer um clube que esteve moribundo, como se lê na página 36. Nos três anos que tem de clube, perdeu sempre bons jogadores, mas fez outros, e a equipa mantém-se competitiva. Para o ano vão pelos menos mais dois, mas aposto que Carlos Resende irá manter inalterada a sua opinião - o técnico do FC Porto diz que é muito difícil defrontar o Belenenses.

É verdade, já sei quem é João Florêncio.

União fez a força
CARLOS MANUEL PEREIRA

Há cerca de um ano a perspectiva para o andebol do Belenenses era negra. Vários meses de ordenados em atraso, a extinção da modalidade era uma hipótese iminente, e a "fuga" desenfreada era um medo permanente. "Nessa altura estávamos completamente sozinhos, não havia interlocutor com a direcção. Ninguém resolvia os problemas", recordou a O JOGO o treinador do Belenenses João Florêncio, que salientou que só a união da equipa evitou males maiores. "A minha equipa tem uma característica que gosto muito: são solidários. Aliás, eles próprios dizem que têm um balneário único. Nessa altura tentamos sempre responder às necessidades competitivas e ao mesmo tempo suportar as dificuldades financeiras que toda a equipa estava a sentir", confessou o técnico, não esquecendo "o apoio fundamental dos sócios e adeptos do Belenenses".

Hoje o espectro da equipa mudou, a debilidade financeira está controlada, graças ao acordo alcançado entre a actual Comissão de Gestão e os jogadores para o pagamento faseado de alguns ordenados, mas também à forte mudança na estrutura da equipa. Actualmente treinam com os seniores uma dezena de juniores, sendo que seis ou sete [em rotação] jogam semanalmente na equipa principal. Aliás, será pela formação, à semelhança do que se passa no ABC, que o futuro do Belenenses irá passar. "A ideia é a mesma, embora em moldes ligeiramente diferentes. O ABC foi campeão dez vezes nos últimos 20 anos e a maioria dos seus jogadores vieram da formação", rematou João Florêncio, que admitiu reforçar-se no final desta temporada para colmatar as saídas de Hugo Figueira [ABC] e Pedro Spínola [FC Porto].

João Florêncio

"Demasiado jovens"
A excelente actuação que o Belenenses está a fazer esta temporada, que culminou recentemente com a imposição da primeira derrota ao FC Porto na Liga e com a boa campanha a nível europeu, levam o treinador dos azuis, João Florêncio, a sonhar alto. "Ficar nos dois primeiros lugares, na fase regular, seria óptimo, porque assim jogaríamos o play-off perante o nosso público. Mas ficar nos quatro primeiros será muito importante", afiançou Florêncio, que não admite, para já, a candidatura ao título. "É difícil assumir isso como um objectivo. Quero sê-lo a curto prazo no Belenenses. Mas este ano as equipas estão todas muito equilibradas. Fruto da nossa juventude somos uma equipa capaz de fazer o melhor e o pior. Quando jogamos no nosso melhor podemos ganhar a qualquer equipa do nosso campeonato", rematou sustentando que ter vencido o FC Porto "é uma situação normal". "Nos três anos que cá estou, só perdemos uma vez com o FC Porto, foi este ano, no Algarve, na Taça da Liga", asseverou.

Pina fica mais três anos

Nélson Pina renovou contrato com os azuis por mais três temporadas, disse o director José Ramos a O JOGO, colocando assim um ponto final nos rumores que o davam de saída do Restelo. Desta forma os azuis seguram um dos seus principais activos e elemento chave nas manobras ofensivas da equipa.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Jaime Pacheco: «Quero que o Belenenses deixe de ser simpático»

Entrevista concedida pelo treinador Jaime Pacheco aos jornalista António Magalhães e Paulo Sérgio e publicada na edição de ontem do jornal Record e transmitida na Antena1



RECORD - Quando chegou ao Restelo, ficou assustado?
JAIME PACHECO – Não. Cheguei num bom dia de sol e as pessoas foram excecionais na forma como me receberam. Naturalmente, por aquele vínculo tão longo que tive ao Boavista, poderia estar apreensivo, pois quando fui para o V. Guimarães passei por isso. Felizmente, não foi assim. Foi um dia fantástico. Senti que era importante para mim não só recomeçar a trabalhar mas porque vi na instituição uma grandeza que se confirmou.

R – Os sócios do Belenenses, nesse mesmo dia, lembraram-se daquela sua célebre frase: o quarto grande é o Boavista.
JP – Nunca disse isso. Fui confrontado com outro tipo de declarações que também nunca expressei. Para não criar um clima negativo, nem sequer me preocupei em desculpar ou repor a verdade. Estive num clube rival não apenas do Belenenses mas também do V. Guimarães, do Sp. Braga, do Marítimo, e despoletei um clima de rivalidade acrescentado. Na altura, o Boavista passou tudo e todos e como é óbvio os seus naturais adversários não gostaram. Tive, porém, sempre o cuidado de evitar a questão do quarto grande. Sempre disse que a história se encarregava de responder.

R- O assustado tinha a ver com a situação complicada, a todos os níveis, do Belenenses. Quando mergulhou na situação ficou ainda mais preocupado?
JP – Quando uma equipa, no início da temporada, começa o campeonato de forma tão negativa temos uma perceção das coisas que não é boa. Mas isso acontece devido a vários fatores: direção, treinador mas também jogadores. Analisei isso friamente a ponto de perceber que o defeito não era só do treinador, da direção ou dos adeptos. Teria estar também no grupo de trabalho.

R – Havia um grande défice de qualidade no plantel?
JP – Tinha a noção de que também havia qualidade, pois conhecia sobejamente os jogadores que transitaram de épocas anteriores. É verdade que é preciso dar tempo de adaptação aos novos, o que em Portugal não se faz com grande paciência. Senti-me com capacidade e força para alterar o rumo dos acontecimentos, mas também me confrontei com uma realidade mais complicada do que esperava. Havia bons profissionais mas outros de valor muito duvidoso. E eram 30!

R – Como se pode aceitar um plantel assim na primeira Liga?
JP – Como calcula, por respeito a quem fez esse trabalho e até como o fizeram, não vou comentar. Muitas vezes os treinadores são culpados por coisas de que não têm responsabilidade. Desde 2002 até hoje nunca fiz um plantel, nunca tive participação ativa da construção de 80 por cento de um plantel.

R – Nem nos anos de ouro do Boavista?
JP – Nem aí. E jamais algum treinador terá essa possibilidade.

R – Porquê?
JP – Porque vêm sempre jogadores de épocas anteriores. Depois há os ativos e as questões da sad, e depois há os jovens. E até as apostas dos presidentes! Têm sempre uma... E a componente financeira, claro. Naturalmente, tudo isso se reflete na equipa que idealizamos.

R - E também há os empresários. Alguma vez teve de lidar com essas influências?
JP – Como devem calcular, como nesta pergunta e noutras que eventualmente se seguirão, tenho de ser politicamente correto e ser inteligente a ponto de não entrar por esse caminho. Sabemos que na nossa atividade, as coisas deambulam para um lado ou outro por razões que desconhecemos. Tenho boa relação com todos os empresários, mas sempre dentro da ética do que é profissional e no interesse da própria instituição.

R – Numa entrevista ao Record já disse que não tinha negócios escuros com empresários... Há quem faça esses negócios?
JP – O que me faz perplexidade é o seguinte. Imagine que compro um jogador por 20 ou 25 milhões de euros; ele vem e não joga. Então, das duas uma: ou sou mau treinador ou o jogador não presta. Garanto-lhe: se contratasse um jogador por esse valor, ele jogava e bem! Eu também me interrogo: alguma coisa não bate certo.

R – O que foi preciso atacar primeiro no Belenenses?
JP – Analisar corretamente o que estava ao meu dispor para ter em cada jogo os melhores e mais disponíveis. Era fundamental criar equilíbrio, sustentado em bases e valores que permitissem adquirir confiança. Depois, logo se veria que ajustes era preciso fazer de acordo com as possibilidades.

R – E fez tantos que foi a equipa que mais mexidas operou no mercado de Inverno. Era a prova de um plantel fraco.
JP – Fazia questão de ir ao encontro do que era possível, acrescentando qualidade com jogadores que tivessem experiência do nosso futebol. O Belenenses tem cumprido religiosamente tudo o que são as suas obrigações. Senti que teria de diminuir o plantel e procurar jogadores a preços compatíveis com a realidade do clube. Se tirei 5 no valor de 100, teria de meter 5 no valor de 50. Felizmente, conseguimo-lo, melhorando a qualidade da equipa e equilibrando-a.

R – Agora a equipa já está equilibrada?
JP- Está. Procurámos outras soluções, mas em função do que achei mais correto estas escolhas foram minhas e foram as melhores. A equipa necessitava de jogadores com características como o Ávalos, o Diakité e o Saulo. O Belenenses jogava bem, mas que conquistava pouco.

R – Como assim, era macia?
JP – Não, mas era uma equipa que só recuperava a bola se o adversário a perdesse... Não era um grupo de guerreiros capazes de conquistar terras, só se houvesse o abandono das mesmas.

R – A propósito. A imagem de marca do Boavista campeão era a agressividade. Nos últimos jogos do Belenenses, por exemplo, a equipa fez menos faltas do que o Benfica (18/19) e praticamente as mesmas do que o FC Porto (17/15). O Boavistão chegou a fazer mais de 30 faltas por jogo. O que mudou?
JP – Nada! Desde miúdo que temos as nossas simpatias e os nossos gostos. Depois temos apreço por clubes que classificamos de simpáticos. Há muitos anos, os simpáticos era o Boavista, o Belenenses e a Académica. Agora simpáticos só o Belenenses e a Académica. Só me apelidaram de ser um treinador de equipas agressivas quando o Boavista foi campeão. Antes fui treinador P. Ferreira e do V. Guimarães e nesses anos do Vitória -- que deixou de oscilar entre época boa-e-época má, indo inclusivamente à Europa -- jogávamos um futebol brilhante.

R – Então é mais fama que proveito?
JP – Não, foi é depois de ser campeão.

R – Quer então tornar o Belenenses numa equipa pouco simpática?
JP – Quero ganhar, como é óbvio. O Belenenses só deixará de ser simpático quando ganhar.

R – Quanto tempo então precisa para levar o Belenenses a ser campeão?
JP – Não posso prometer nada. Já passei por isso e no Boavista fizemos uma história bonita. Basta ler as declarações dos treinadores das equipas principais do nosso futebol que estão sempre a reclamar tempo. É preciso ter conhecimento da equipa e desta dela própria. Os processos que tem de assimilar, tudo isso. Nós, agora, estamos a fazer isso em competição. Até tenho dificuldades em realizar mudanças de ordem tática, pois estaria a correr riscos e a pôr em causa resultados que é aquilo que mais nos interessa. Há uma coisa fundamental e que me permite falar com muita confiança: a administração do Belenenses. Se nós tivemos coragem em vir treinar o Belenenses, eles tiveram coragem muito maior em assumir as suas responsabilidades. Têm sido pessoas excecionais, inexcedíveis na forma como nos apoiam no dia a dia. Respondendo em concreto: para voltar a ser campeão teria de continuar e os dirigentes liderados pelo dr. João Barbosa pudessem continuar. Dão-nos a esperança de que isso possa vir a acontecer no futuro. Tenho a noção de que o Belenenses necessita de estabilidade que esta direção lhe pode dar.

R – José Pedro disse que a época vai ser de sofrimento até ao fim. Concorda?
JP – Concordo. É uma época que se começa em défice. A todos os níveis. Não é de um dia para o outro que se faz uma equipa. A integração de Diakité melhorou alguns aspetos defensivos. Levávamos muitos golos... Nestes últimos tempos, exceção feita ao FC Porto, não vi equipa que nos tenha sido superior. Sinto que se ganharmos 2 ou 3 jogos seguidos, voltamos à normalidade. No início deste meu ciclo procurei dar muita confiança aos jogadores e nunca deixei entrar desânimo na nossa casa. Foi das lutas maiores.

R – Silas já demonstrou desconforto pelo fato de ainda não ter renovado. Quando é que Pacheco toma decisões nesta matéria?
JP – O Silas é um otimo jogador e profissional. Respeito a sua opinião. Mas o que importa, chegados a este momento pós-reestruturação, é melhorar a classificação do Belenenses. A prioridade é a estabilidade do clube. Conseguido isso, a direção poderá virar-se para outras questões. Nalgumas conversas que tenho com atual direção não posso aprofundar o futuro, pois eu próprio não sei se continuo.

R – Nem a direção...
JP – Pois é. Há outras prioridades, como disse.

R – Então como se pode trabalhar bem com todas essas dúvidas?
JP – Quero ser solução, não quero ser problema. Vim para ajudar e dar o melhor de mim. É o que vou fazer. Trabalhar para que as pessoas se sintam satisfeitas.

R – Acha que estão?
JP – Eu estou! Estou muito satisfeito por estar no Belenenses, com esta direção e com o grupo de trabalho. Os jogadores, mesmo com dificuldades para trabalhar, nunca os ouvi queixarem-se de nada. Aceitam tudo e aplicam-se como grandes profissionais que são. Por isso acredito que o futuro será melhor. O que me preocupa é que o Belenenses tenha mais vitórias e mais pontos, pois merece estar noutro lugar. Às vezes digo: nós jogamos bem de mais para o lugar que ocupamos. Mas temos de ser mais práticos e realistas.

R – Quando fala em dificuldades para trabalhar, refere-se a quê?
JP – As condições são difíceis, mas isso é um problema que tenho de resolver. Não posso passar para a opinião pública qualquer problema. Porque senão não tínhamos ido a Angola... Não nos vamos escudar em nada. Se calhar, era o que deveria fazer, mas eu nunca fui de arranjar desculpas. A minha missão é arranjar soluções. Havemos de encontrá-las

R– O Boavista é o seu grande amor. Quando olha para o que se passa no clube o que sente?
JAIME PACHECO – Acho que foram muito injustos para com o Boavista. Quem decidiu condená-lo vai ter problemas de consciência até morrer. Aquilo conheço do futebol português dava para fazer um filme com tanta ação ou mais do que tinha o Padrinho e outros. Uma saga sem fim. Aproveitaram a fragilidade financeira do Boavista e quiseram tapar o sol com a peneira. Segundo o meu “parecer”, o Boavista não fez nada de grave que os outros não tenham feito.

R – Quando fala no Padrinho está a dar alguma conotação mafiosa ao assunto?
JP – Não, não. É apenas um exemplo para que as pessoas percebam que se fizerem o filme todo, a ação não teria fim.

R – O Boavista deve-lhe muito, assim como você terá uma dívida de gratidão para com o clube?
JP - Da relação pessoal e profissional que tenho com os clubes, só falo das coisas positivas. Nós portugueses só falamos de crises e desgraças. Em sentido figurado, somos piores do que os velhos do Restelo. Quando temos de avaliar alguém de zero a dez, se a pessoa tiver 8 qualidades só falamos dos 2 defeitos. Eu não sou assim. Eu é que devo muito ao Boavista. Proporcionou-me muitos bons momentos.

R – Financeiramente o Boavista deve-lhe muito dinheiro?
JP – [pausa] Honestamente, isso não me preocupa muito. Gostaria que por direito próprio fosse feita justiça ao Boavista e o clube voltasse à liga principal. O Boavista perdeu na secretaria como aconteceu ao Belenenses na Taça da Liga.

R – Ainda mantém relações com a família Loureiro?
JP – Eu não me chateio nem me zango com ninguém. Se porventura há alguma incompatibilidade, são os outros que deixam de falar comigo. Durante todo o meu trajeto desportivo houve muita gente que me fez mal, mas eu perdoei a todos e nesse aspeto continuo a manter boas relações. Essas pessoas trataram-me bem, deram-me oportunidade de eu ser feliz muitos anos. Aquela gente, os Loureiros e todos os boavisteiros, devo-lhes muito. E eu retribuo com a mesma amizade.

Mulher de Diakité já venceu

R – Esta época já foi derrotado por uma mulher: a noiva de Diakité.
JP – Não tinha o direito de obrigar Diakité a jogar num dia tão especial como o do seu casamento. Mas digo-lhe uma coisa: se fosse eu tinha ido jogar. A paixão que tenho pelo futebol é imensa. E ainda por cima o jogo era no estádio da Luz. Ah, pode ter a certeza que tinha ido a correr para o jogo e levava a mulher pela mão!

A fugir de Mozer

R – Viu algum jogador interessante em Angola?
JP – Eles são todos da mesma cor e é difícil depois distingui-los. Mas gostei com um nome conhecido, Lami, que jogou a defesa-direito. É interessante. Há uns anos disse que gostava de jogadores altos, feios e agressivos no sector defensivo. Olhe, um que admirei e que sempre fugi dele a sete pés: o Mozer. O Jorge Costa, o Fernando Couto, o Luisão, o Bruno Alves fizeram e fazem carreira. São jogadores que intimidam e são essenciais. Esse Lami achei interessante

RECORD - O saldo de Pacheco com os grandes é admirável. O nosso companheiro Rui Dias até o chamou de Robin dos Bosques...
JAIME PACHECO - Dá-me gozo. Creio que o Benfica nunca me ganhou na condição de visitante e a primeira vez que o FC Porto perdeu no estádio novo foi comigo, assim como em 100 anos de história a primeira vez que o Boavista ganhou nas velhas Antas foi também comigo.

R – Há algum segredo?
JP – Os jogadores.

R – Sim, mas poucos têm este registo...
JP – Também já treino há uns anitos... Talvez por ter o conhecimento do “outro lado”. Têm razão aqueles que falam no cheiro do balneário. Sei o que é estar do lado de lá. Eles também são humanos e tem as suas fragilidades, nervosismo, ansiedade.

R - O Belenenses vai terminar o campeonato na Luz, num jogo que pode ser fundamental para as duas equipas cumprirem objectivos.
JP- Que seja fundamental só para o Benfica.

R – Pode o Belenenses estar a lutar por um lugar europeu...
JP – Vamos ser humildes e realistas. Não pensem nisso! Europa, não. Manutenção, sim. Mas vamos fazer uma 2ª volta muito boa.

R - Estes dois jogos (Liga e Carlsberg) foram muito equilibrados. Já percebeu como é que se pode ‘dar a volta’ ao Benfica de Quique?
JP – No papel consigo tudo. Na prática é que é complicado. O fundamental nessas alturas é saber com quem conto, mas é uma preocupação menor pois sei que tenho ali gente com muito valor e disponibilidade.

R – Mas é mais fácil enganar o Benfica do que o FC Porto?
JP – Naquele momento, foi. Joguei no FC Porto e no Sporting. Em termos de mentalidade e cultura desportiva, as diferenças mantêm-se entre o norte e o sul. Aqui no sul, não é que não se seja bom profissional ou responsável, mas idolatram-se as coisas antes delas acontecerem. Valoriza-se antes de se concretizarem. No norte, é preciso demonstrar primeiro. Só depois nos dão o valor. Aqui, basta dar um ar de sua graça.

«Quem batizou o Hulk merece um prémio»

R - Já defrontou Benfica e FC Porto. Vem aí um clássico. Como é que o analisa e projecta?
JP – Tudo pode acontecer. O FC Porto no momento é a melhor equipa. Tem uma estrutura sólida e 3 ou 4 jogadores na frente em muito boa forma. O Lucho não está tão forte como noutros anos, mas o Lisandro, o Rodríguez e o Hulk – quem o batizou merece um prémio!

R – Assustou-o?
JP- Um pouco, é verdade. Com 2-0 fiquei um pouco apreensivo. O FC Porto se calhar veio mais forte, porque vinha avisado, pois tínhamos jogado muito bem com o Benfica. Esse jogo tirou-nos um pouquinho de humildade. Quisemos jogar como o FC Porto e nós não temos, ainda, capacidade para ser equipa grande. E nós jogámos como uma equipa grande contra uma grande equipa. Não o devíamos ter feito.

R – O FC Porto parte pois em vantagem?
JP – Sim e o fator casa pode ser importante. Não questiono sequer o jogo a meio da semana e as alterações. Isso não é desculpa.

R – Mas o Benfica não poupou ninguém...
JP – Hoje há tantas formas de recuperar os jogadores e a qualidade dos treinadores é tão boa que não há desculpa para dizer que os jogadores possam acusar desgaste ou cansaço.

R – Viu alguma fragilidade no FC Porto?
JP – Vi uma equipa humilde, rigorosa, prática e objetiva. Vi um jogador que muito admiro, o Bruno Alves, além do Rolando, a jogar sem cerimónias: assim como a bola vinha, assim a bola ia. Sabem que a missão deles é defender, e fazem-no de qualquer maneira. O FC Porto é assim: prático.

R – E o que mais gostou no Benfica?
JP – Tem bons jogadores. O Suazo é muito perigoso.

R – Ainda não tem uma boa equipa?
JP – Se calhar, como todos os treinadores precisam de tempo.

Pela Verdade Desportiva


Decorre actualmente na internet uma petição sobre a “Verdade Desportiva” da autoria do comentador da SIC Notícias, Rui Santos (na foto),

http://www.ipetitions.com/petition/pelaverdadedesportiva/index.html.

O teor da petição visa única e exclusivamente a introdução das novas tecnologias no futebol, como se isso erradicasse totalmente os erros no futebol, sejam eles involuntários ou não.

Poderá existir verdade desportiva quando:
· Os regulamentos não são cumpridos nem os órgãos jurisdicionais os cumprem e nem os fazem cumprir?
· Quando são levantadas proibições aos clubes incumpridores a fim inscrever jogadores e logo de seguida volta a proibição?
· Quando os órgãos autárquicos apoiam com verbas exorbitantes alguns clubes?
· Quando é vendido o naming de uma instalação desportiva camarária (construída com o dinheiro de todos nós) e o beneficiário não é a Câmara mas o clube local?
· Quando o PDM é alterado na mesma cidade em benefício de 2 clubes e outro é impedido de ser financeiramente viável?
· Quando a insularidade é motivo de descriminação positiva por parte das leis da Republica (no que concordo) vindo depois os respectivos Governos Regionais apoiarem os clubes insulares com verbas muitas vezes superiores aos orçamentos de alguns clubes do Continente que com eles competem?
· Quando entidades públicas (C.G.D. e PT) apoiam unicamente os 3 do costume?
· Quando a Comunicação Social, (RTP e RDP) paga com o dinheiro dos contribuintes falam única e exclusivamente dos mesmos?

É útil a petição? Claro que é. Por algum lado se deve começar mas entendo que estas e outras verdades deverão ser faladas como forma de acordar as consciências.